Saudações amigos, que a graça de Deus seja sempre conosco.
Sempre aconselhei os indivíduos a buscarem a verdade por si mesmos, conquanto não raro tenha sugerido meios para alcançá-la. Já não estou muito certo se devo continuar a fazê-lo, pois me encontro num estágio de completa suspensão do juízo. A suspensão do juízo é um processo mental por meio do qual, por um período de tempo indefinido, suspendemos todos os nossos juízos de valor, crenças e conceitos, os reavaliando. Feito isso, nada mais é certo ou errado, belo ou feio, bom ou mal. Tudo pode ser e não ser. É mais ou menos o que Descartes descreve no Discurso do Método, quando dúvida de tudo e de todos (mesmo do próprio corpo), até que chega ao ponto de saber que de uma única coisa ele não poderia duvidar, a saber, do seu pensamento. Daí sua famosa máxima: cogito ergo sum (Penso, logo existo). Não recomendo esse processo a ninguém, a não ser que realmente se sinta uma profunda necessidade dele. As consequências desse ceticismo, quando realmente levado a cabo de modo racional, são imprevisíveis e podem tanto reafirmar algumas convicções, como, ao revés, produzir uma mudança cataclísmica na existência do indivíduo. Pode ser algo perigoso.
Sei que esse texto poderá ser tomado como fruto de um deísmo inconsequente. Mas ainda assim prefiro um deísmo inconsequente a um teísmo doente. O deísmo ao menos é sincero…
Soren Kierkegaard é um pensador impressionante. Sua filosofia é profundíssima. É considerado por muitos como o precursor mor do existencialismo. Tem origem luterana, mas isso não impediu que fosse um profundo crítico da igreja. Seu pensamento é muito vasto. Contudo, gostaria de me utilizar aqui de apenas uma de suas várias reflexões: A igreja não passa de um grande teatro, sendo que a diferença efetiva entre o teatro e a igreja resida no fato de que no teatro os atores ao menos assumem que estão atuando, ao passo que na igreja essa atuação é negada e dissimulada pela “piedade”. (mais…)